Hoje uma barata correu-me por cima do pé e eu mal liguei. Para quem me conhece, estas palavras devem ser suficientes para provar o quão absorvida estava com o que aconteceu antes da corrida da barata.
A convite de um amigo, fui com a Sara, amiga professora de Português na Un. Indonésia, e a Zita, amiga do trabalho e "local", assistir a uma aula que semanalmente é dada debaixo de uma ponte, numa zona de Jakarta chamada Grogol.
As aulas, dadas de forma gratuita por professores voluntários de uma associação local (http://www.sahabatanak.com/), são como uma Explicação, uma vez que a maioria destas crianças frequenta a escola de segunda a sábado. E ao Domingo, voluntariamente, vêm de longe, sozinhos ou com familiares, para passar duas horas debaixo de uma ponte, com pouca iluminação e sentados em lonas no chão, a ouvir os professores explicar matemática e inglês. Quem corre por gosto felizmente não cansa.
Para muitas crianças, este é um escape a pedirem na rua. Para perceberem a importância desta frase, leiam isto http://english.aljazeera.net/programmes/101east/2010/03/201031813502139505.html.
Muitas outras seguramente apenas vêm pelo lanche que é dado no final. Mas é incrível a atenção que todas prestam ao que é dito, no meio da confusão do trânsito, ao lado de um canal cheio de lixo e mal-cheiroso, com baratas em modo Fórmula 1 à nossa volta, e famílias em co-habitação.
Muitas outras seguramente apenas vêm pelo lanche que é dado no final. Mas é incrível a atenção que todas prestam ao que é dito, no meio da confusão do trânsito, ao lado de um canal cheio de lixo e mal-cheiroso, com baratas em modo Fórmula 1 à nossa volta, e famílias em co-habitação.
A curiosidade das crianças levou a que fizessem perguntas como "tens namorado" ou "como vieste até Jakarta", e nenhuma resposta os pareceu surpreender, nem quando disse quanto custava a deslocação até cá. Já a minha curiosidade foi desarmada no momento em que perguntei "o que fizeste ontem" e uma rapariga de 13 anos me respondeu "skola dan baskin" (foi à escola e depois foi pedir na rua). A ligeireza daquelas palavras devolveu-me à realidade. E revi nas palavras e na indiferença daquela menina todas as crianças lamuriosas que vi de mão estendida nos semáforos de todos os países de 3º mundo que visitei.
Entre chocolates e perguntas pessoais revimos as estações do ano, uma aventura para quem apenas conhece o Verão e o Inverno, falámos de passatempos, do Cristiano Ronaldo, de futebol, de cores e de palavras portuguesas. Aprendi indonésio e repeti as suas palavras.
Recordei-me do quanto preciso de me sentir útil aos outros para encontrar satisfação pessoal, um verdadeiro egoísmo no altruísmo. E é tão bom às vezes ser egoísta.
Debaixo da ponte ao menos não chovia.
A nossa "turma".
Makanan!!!! (Comida!!!)
Uma menina a fazer desenhos na lama e outra no caderno, naquilo que é a sua casa.
Chuaca. :)
ResponderEliminarBrutal. É claro que estou em lágrimas... e não é tanto devido às hormonas da maternidade... A sorte que têm as nossas meninas... E as minhas, têm numa "tia" um exemplo e um testemunho, para que saibam sempre dar valor... a tudo. Espero sinceramente, poder ensinar-lhes isso e, sobretudo, que elas possam sempre ser egoístas altruístas. Beijo. Saudades.
ResponderEliminarSem palavras...
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